domingo, 19 de junho de 2011

Mas na manhã seguinte...

Não! Nunca fui despertado pela cotovia. Para falar a verdade, eu sequer saberia reconhecer o seu canto. O que sempre me fez acordar, desenlaçar as pernas e recompor as vestes amarrotadas foi a necessidade do retorno. Do retorno ao insípido, ao estático, ao nada.
O sublime é um pássaro volátil duramente perseguido pelos poetas. Fosse esse aberto ao fremir cálido do toque mortal, certamente a sua existência seria ordinária e as suas plumas não reluzeriam nos olhares elevados. A nossa sorte não seria diferente: os abraços cronometrados e os minutos de êxtase, duramente alcançados durante a noite, encontram o seu termo no nascer do sol. E eu, embora sujo de ti, me refaço estranho. E o teu corpo, despojado na cama e alheio ao meu, nem se dá conta, sequer sabe o porquê eu me ponho de costas ao me vestir, e tentar assim preservar alguma pétala do segredo há muito desnudado. E você respira fundo, sonhando (talvez) com alguma realidade diferente desta. E eu me levanto, apressado e silencioso, e parto (seguindo o bom princípio cristão de não olhar para trás) avaliando cada beijo futuro que ficará para sempre cerrado nesse quarto de "nuncas mais".